Não compreendo este martírio obscuro
Que nos liga a um tempo e nos separa;
Comigo então dá-se uma coisa rara:
Quero fugir-te e sempre te procuro.
Impulso misterioso, indecifrável,
Impele para ti meu pensamento...
E, apesar de saber que és um tormento,
Quero sentir-te e acho-te adorável!
Tenho momentos tais que, com certeza,
Se te visse a meus pés sofrendo, ria...
Mas outros há que até nem quereria
Ver-te no olhar as sombras da tristeza
Umas vezes converso a sós comigo
E abençoo-te pálido e tremente...
Outras vezes talvez mais consciente,
Odeio-te vê lá - não te bendigo!
Não sei se és boa ou má, e não conheço
Donde nasceu este profundo anseio...
Newm sei mesmo se te amo ou se te odeio...
Só sei que de te ver nunca me esqueço.
Se és má e só desditas me desejas,
Que eu mais não veja a tua luz maldita!
Mas se sofres e és boa... Deus permita
Que sejas bem feliz, que sempre o sejas!
in Phantasias, Lisboa, Antiga Casa Bertrand - José Bastos, 1895
(ortografia adaptada para o português actual)
Alberto Allen Pereira de Sequeira Bramão (n. Almada, Nov. 1865; m. Lisboa, 14 Nov 1944).
Ler do mesmo autor, neste blog: Como esses bois que andam...
Citações de Alberto Bramão
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