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2010-07-06

Matilde Rosa Araújo faleceu hoje - Não se amam os poetas

Não se amam os poetas que descem do rio porque
Porque o rio é negro e fundo e uma voz canta na outra margem
Voz sempre estrangeira
E no rio desce também um lago de jardim
Artificial e inútil com peixes vermelhos
De noite ouvia os animais da selva por entre gritos.
Animais que ressonavam por entre barras de ferro
O sono de sua força prisioneira
E passavam cavalos da Guarda sobre a calçada
E só mortos os seus passos o medo morria
E eu não ser amada no rio sem o ver
E ouvia a voz da outra margem
E no lago de peixes vermelhos
Era tudo tão pouco e cercado
E na noite os animais vinham derrotados e poderosos no seu sonhar
Chorando eu ia pelo rio nele fundida
Não tinha uma boneca para dormir
Escusava de abrir e fechar os olhos a boneca
Bastava só ser boneca para eu adormecer e dormir a minha idade.
E as grades da minha cama de ferro foram sempre duras de mais
E boiava de noite pelo rio e descia na jangada do lago


Matilde Rosa Lopes de Araújo (Lisboa, 20 de Junho de 1921 - Lisboa, 6 de Julho de 2010)

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