Que me quereis, perpétuas saudades?
Com que esperança ainda me enganais?
Que o tempo que se vai não torna mais,
e se torna, não tornam as idades.
Razão é já, ó anos, que vos vades,
Porque estes tão ligeiros que passais,
Nem todos para um gosto são iguais,
Nem sempre são conformes as vontades.
Aquilo a que já quis é tão mudado
que quási é outra cousa; porque os dias
têm o primeiro gosto já danado.
Esperanças de novas alegrias
não mas deixa a Fortuna e o Tempo errado,
que do contentamento são espias.
Extraído de Poemas Portugueses Antologia da Poesia Portuguesa do Séc. XIII ao Séc. XXI, Porto Editora
Luís Vaz de Camões (nasceu c. 1524; m. em Lisboa, a 10 de Junho de 1580).
Ler do mesmo autor:
Busque Amor novas artes novos engenhos
Amor, que o gesto humano na alma escreve
Aquela triste e leda madrugada
Mudam-se os tempos mudam-se-as vontades
Amor é um fogo que arde sem se ver
Erros meus, má fortuna, amor ardente
Alma minha gentil que te partiste
Verdes são os campos
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