Mortos que em certas horas me falais
Com a vossa mudez ou murmúrios subtis,
Dizei: Custa muito morrer?
Há lá, por esse mundo, uma outra vida,
Que valha a pena viver?
Mortos que em certas horas me tocais
Com a vossa mão fria,
Dizei-me: Com a morte tudo acaba,
Ou, como se nascêssemos de novo,
Um novo mundo principia?
Nada sei.
Sou inexperiente na morte,
Pois não morri ainda
Queria saber desvendar
Se com a morte que tomba
Alguma coisa começa,
Ou, se pelo contrário, tudo finda.
Esses que amei, com quem vivi, felizes,
Num mundo de amarguras povoado
De novo, poderei tornar a vê-los,
Felizes ao meu lado?
Ilusões, quem as criou,
É um benfeitor
Que merece guarida!
Dai-me a ilusão, todos vós que morrestes,
De uma outra vida melhor
Para além desta vida.
in Obra Poética de Alfredo Brochado, Edição de José Carlos Seabra Pereira, Lello Editores
Alfredo Monteiro Brochado (n. em Amarante a 3 de Fevereiro de 1897 e suicidou-se em Lisboa a 16 de Maio de 1949).
Ler do mesmo autor neste blog:
Confissão
Silêncio
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Miniaturas
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Na Atitude Saudosa de Quem Chora
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