Tudo vem me lembrar que tu fugiste,
Tudo que me rodeia de ti fala.
Inda a almofada, em que pousaste a fronte,
O teu perfume predileto exala
No piano saudoso, à tua espera,
Dormem sono de morte as harmonias;
E a valsa entreaberta mostra a frase,
A doce frase que inda há pouco lias.
As horas passam longas, sonolentas...
Desce a tarde no carro vaporoso...
D'Ave Maria o sino, que soluça,
É por ti que soluça mais queixoso.
E não vens te sentar perto, bem perto
Nem derramas ao vento da tardinha,
A caçoula de notas rutilantes
Que tua alma entornava sobre a minha.
E, quando uma tristeza irresistível
Mais fundo cava-me um abismo n'alma,
Como a harpa de Davi, teu riso santo
Meu acerbo sofrer já não acalma.
É que tudo me lembra que tu fugiste,
Tudo que me rodeia de ti fala...
Como o cristal da essência do Oriente
Mesmo vazio a sândalo trescala...
No ramo curto o ninho abandonado
Relembra o pipilar do passarinho.
Foi-se a festa de amores e de afagos...
Eras - ave do céu...minh'alma - o ninho!
Por onde trilhas - um perfume expande-se,
Há ritmo e cadência no teu passo!
És como a estrela, que transpondo as sombras,
Deixa um rastro de luz no azul do espaço...
E teu rastro de amor guarda minh'alma,
Estrela, que fugiste aos meus anelos!
Que levaste-me a vida entrelaçada
Na sombra sideral de teus cabelos!...
Antônio Frederico de Castro Alves (n. em Muritiba, Bahia, 14 de Março de 1847 — m. Salvador, Bahia, 6 de Julho de 1871).
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Boa-Noite
O Adeus de Teresa
Adormecida
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