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2010-02-08

Verás, Amor cruel, descer serena - Augusto Schmidt

Verás, Amor cruel, descer serena,
dos céus ditosos, a piedosa Imagem
e ficarás, como és, indiferente
à sua luz de estranha suavidade.

Verás, nos teus desertos interiores,
florir pobres jardins abandonados
e nascer, pelas árvores mais secas,
dourados frutos plenos, sumarentos.

Verás milagres: urzes dos caminhos
servirão p'ra fazer os frágeis ninhos
e os bichos feros mansos ficarão.

Só tu, nesse Éden, que antevejo um dia,
serás, cruel Amor, distante e fria
-sinal do meu castigo sem perdão.

Poema extraído de «A Circulatura do Quadrado - Alguns dos Mais Belos Sonetos de Poetas cuja Mátria É a Língua Portuguesa. Introdução, coordenação e notas de António Ruivo Mouzinho. Edições Unicepe - Cooperativa Livreira de Estudantes do Porto, 2004).

Augusto Frederico Schmidt nasceu a 18 de Abril de 1906 no Rio de Janeiro; m. no Rio de Janeiro a 8 de Fevereiro de 1965.

Ler do mesmo autor, neste blog:
Quando eu morrer
Vazio

2 comentários:

Lúcia Laborda disse...

Querido amigo; sem dúvida, um belo soneto! Boa semana! Beijos

Nothingandall disse...
Este comentário foi removido pelo autor.

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