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1Dos versos que exprimem,
Estou cansado!
Das palavras que explicam,
Estou cansado!
Dos gestos que explodem,
Estou cansado!
Ai, embala-me, fútil, e frágil, no ó-ó dos teus versos,
Ai, encosta-me ao peito...!
Mais não quero que ser embalado.
2
O menino está doente...
-Diz a mãe.
Qui-é qui-é
Que o menino tem?
Ai!
Diz o pai.
A criada velha chora pelos cantos
E reza a todos os santos...
Afirma o senhor doutor
Que amanhã que está melhor.
O pai suspira:
-Quem sabe lá?!
E o menino diz:
-Papá...!
A mãe chora:
-Quem já me dera amanhã!...
E o menino diz:
-Mamã...!
E, com a febre, rezinga,
E choraminga,
Olhando a lua amarela
Como uma vela:
-Quero aquela péla...!
Mas o Pai do Céu sorri:
-Vem cá vê-la!
É para ti.
3
-Acabaste?
-Meu amor, acabei.
-Apagaste a candeia? apagaste?
-Meu amor, apaguei.
-E fechaste o postigo? e fechaste?
-Meu amor...sim, fechei.
-Que rumor é aquele? não sentes?
-Meu amor, que importa?
É a vida a dar socos na porta.
É lá fora. São eles. É o mundo. São gentes...
-São gentes? Quem são?
-São colegas, amigos, parentes...
-Vai dizer-lhes que não! Vai dizer-lhes que não!
in As Encruzilhadas de Deus, José Régio, Obras Completas, Portugália EditoraEstou cansado!
Das palavras que explicam,
Estou cansado!
Dos gestos que explodem,
Estou cansado!
Ai, embala-me, fútil, e frágil, no ó-ó dos teus versos,
Ai, encosta-me ao peito...!
Mais não quero que ser embalado.
2
O menino está doente...
-Diz a mãe.
Qui-é qui-é
Que o menino tem?
Ai!
Diz o pai.
A criada velha chora pelos cantos
E reza a todos os santos...
Afirma o senhor doutor
Que amanhã que está melhor.
O pai suspira:
-Quem sabe lá?!
E o menino diz:
-Papá...!
A mãe chora:
-Quem já me dera amanhã!...
E o menino diz:
-Mamã...!
E, com a febre, rezinga,
E choraminga,
Olhando a lua amarela
Como uma vela:
-Quero aquela péla...!
Mas o Pai do Céu sorri:
-Vem cá vê-la!
É para ti.
3
-Acabaste?
-Meu amor, acabei.
-Apagaste a candeia? apagaste?
-Meu amor, apaguei.
-E fechaste o postigo? e fechaste?
-Meu amor...sim, fechei.
-Que rumor é aquele? não sentes?
-Meu amor, que importa?
É a vida a dar socos na porta.
É lá fora. São eles. É o mundo. São gentes...
-São gentes? Quem são?
-São colegas, amigos, parentes...
-Vai dizer-lhes que não! Vai dizer-lhes que não!
José Maria dos Reis Pereira (nasceu em Vila do Conde a 17 de Setembro de 1901 — m. em Vila do Conde, 22 de Dezembro de 1969)
Ler do mesmo autor neste blog:
Poema do Silêncio
Poema do Silêncio
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