Olha, meu filho, quando, à aragem fria
dalgum torvo crepúsculo, encontrares
uma árvore velhinha, em modo e em ares
de abandono e outonal melancolia,
não passes junto dela, nesse dia
e nessa hora de bênçãos sem parares;
não vás sem longamente a contemplares:
vida cansada, trémula e sombria!
Já foi nova e floriu entre esplendores;
Talvez, em derredor dos seus amores,
'inda haja filhos que lhe queiram bem…
Ama-a, respeita-a, ampara-a na velhice;
Sorri-lhe com bondade e com meiguice:
lembre-te ao vê-la a tua própria Mãe!
António Correia de Oliveira nasceu em S. Pedro do Sul (Beira Alta) a 30 de Julho de 1879 e morreu em Belinho (Esposende) a 20 de Fevereiro de 1960. Órfão de pai aos 12 anos, matriculou-se no seminário de Viseu, mas desistiu por falta de vocação. Seguiu para Lisboa e tentou o jornalismo mas falhou. Foi António Cândido quem lhe arranjou colaboração como amanuense na Procuradoria-Geral da Coroa onde se conservou até à Proclamação da República. Em 1912, após consorciar-se, ficou residência numa quinta minhota, onde viria a morrer, já octogenário, não sem que, em 1937, tivesse feito uma viagem apoteótica ao Brasil. Poeta de estro fácil, a sua poesia, quer patriótica quer religiosa, é de inspiração popular.
Soneto e nota biobibliográfica extraídos de «A Circulatura do Quadrado - Alguns dos Mais Belos Sonetos de Poetas cuja Mátria é a Língua Portuguesa. Introdução, coordenação e notas de António Ruivo Mouzinho. Edições Unicepe - Cooperativa Livreira de Estudantes do Porto, 2004. Ler do mesmo poeta, neste blog:
O Perfume;
A Despedida
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