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2009-05-04

Recordando Nunes Claro na passagem dos 60 anos sobre a sua morte

Rosas côr-de-rosa e vermelhasRosas côr-de-rosa e vermelhas imagem daqui

Toma essas rosas de Dezembro agora,
Que ao frio, à chuva, esta manhã colhi,
Elas trazem humildes, lá de fora,
Saudades da montanha até aqui.

Hão de morrer d'aqui a pouco, embora!
Em cada curva, onde o perfume ri,
Trazem mais o terno duma hora,
que um frágil coração bateu em ti.

Aceita-as pois, mas, como a vida é breve,
E, um dia, peno, leve e branca a neve,
Há-de cair sobre o teu peito em flor,

(Não vá Dezembro algum murchar-te o encanto)
Deixa tu que eu te colha agora, enquanto
Tens sol, tens mocidade e tens amor.

Joaquim Nunes Claro nasceu em Lisboa a 20 de Abril de 1878 e faleceu em Sintra a 5 de Maio de 1949. Médico, trabalhou, durante a 1.ª Guerra Mundial, no Hospital Militar Português de Hendaia e, mais tarde, viria a ser vice-presidente do conselho regional lisboeta da Ordem dos Médicos. Começou como poeta panfletário, escrevendo versos indignados sobre a morte de Macéo, herói da independência cubana, ou replicando ao canto de purificação deísta de Junqueiro «Oração ao Pão» (1902) com a «Oração da Fome», protesto contra a condição penosa do homem secularmente esbulhado dos frutos do seu trabalho. Depois, a partir dos anos 20, o poeta-cidadão, cantor da emancipação sócio-cultural, retirou-se para Sintra e deu lugar ao poeta neo-romântico («A Cinza das Horas», 1928), que a uma poesia erótica hedonista junta o sentimento melancólico da usura do tempo e da fugacidade do amor.

Nota biobliográfica extraída de «A Circulatura do Quadrado - Alguns dos Mais Belos Sonetos de Poetas cuja Mátria é a Língua Portuguesa. Introdução, coordenação e notas de António Ruivo Mouzinho. Edições Unicepe - Cooperativa Livreira de Estudantes do Porto, 2004. Poema extraído daqui

Ler do mesmo autor: Vieste tarde, meu amor

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