Ágil, violento,
De copa em copa,
Salta, galopa,
Relincha o vento.
Corcel alado,
Solta as crinas,
Desce às campinas
Desenfreado…
Transpõe barrancas,
Vales, penhascos,
Nas nuvens brancas
Imprime os cascos.
Da terra fura
Fundo as entranhas,
Na noite escura
Galga as montanhas,
Tolda os remansos,
Muda em cachoeiras
As cabeceiras
Dos rios mansos…
Arranca os galhos,
Pelos caminhos,
Deixa em frangalhos
Frondes e ninhos.
De salto em salto.
Revoluteia…
Lambe o planalto,
Dança na areia…
Na amaldiçoada
Força que o agita,
De cambulhada
Se precipita…
Pende o arvoredo
Num murmúrio:
"Meu Deus! Que medo!
Que horror! Que frio!"
Diz um arbusto:
"Por que me levas?
Tremo de susto
Dentro das trevas."
Uma andorinha,
De asa quebrada:
"Morro sozinha,
Solta na estrada!"
Pobre tropeiro
Se desengana:
"Rolou do outeiro
Minha choupana!"
Vozes de magoas
Despedaçadas
Choram nas águas
E nas ramadas…
Uivam nas furnas
Feras aflitas,
Sob infinitas
Sombras noturnas…
E o vento nessa
Marcha selvagem,
Corta, atravessa,
Rasga a paisagem.
E segue o rumo
Do movimento,
Subindo a prumo
No firmamento,
Até que rola,
No último açoite,
Como uma bola
Dentro da noite…
Ler do mesmo autor:
O Enterro da Cigarra
Sem comentários:
Enviar um comentário