Que xaile de silêncio nos deixaste
que forma tão estranha de viver.
Ó voz que ardes na sombra, espinho e haste
Lenço acenando em cada entardecer
Ao anjo português, branca tormenta
que os fados te embalou, rezaste o terço
e os barcos carregados de pimenta
por ti se tornariam nosso berço
as mães em ti cantavam docemente
doridas pela chama da amargura
E a urze dos pinhais nascia rente
À terra que lhes fora sepultura
Soubeste cama estreita das varinas
A malga, o beijo, o sono das colheitas
O vulto dos amantes nas esquinas
O voo da gaivota mais perfeita
Que xaile de silêncio nos deixaste
que forma tão estranha de viver
Ó voz que ardes na sombra, espinho e haste
Lenço acenando em cada entardecer
Mário Cláudio [Rui Manuel Pinto Barbot Costa] (n. no Porto a 6 de Nov. 1941).
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