Há anos que não venho a esta encruzilhada entre negrilhos e oliveiras. Há muitos anos. Ao passar, varava-me um arrepio: ainda se viam os rastos de feiticeiras que a desoras dançavam com o diabo e, à falta deste, com o lobisomem. Nunca as vi, verdade, verdadinha, mas acreditava piamente, sobretudo depois do ti Nocas ter ficado ali a tremer maleitas, morrendo pouco depois. Acreditava, sim, e por isso ao ir para aquelas banda levava sempre um nico de sal no bolso ou raminho de erva santa que já não sei qual é. E aqui estou eu agora sobre as ruínas do mistério, a fumar descontraidamente, julgo eu um L & M lights que "prejudica gravemente a saúde". Mas um mistério não se esboroa em vão: no seu lugar há sempre um outro, um outro.
AQUI, O HOMEM
Nem Baco nem meio Baco!:
Aqui é o homem,
desde as mãos ossudas e calosas,
desde o suor
ao sonho que transpõe as nebulosas.
Montes de pedra dura,
gólgotas
onde os geios são escadas!
Venham ver como sobe o desespero
e a esperança, de mãos dadas.
É o homem.
Isso é o homem.
– Nem sátiro nem fauno –
Uma vontade erguida em rubro gládio
que ganha a terra, palmo a palmo.
Vinhas que são o inferno,
o único
em que o fogo é a taça da alegria!
Venham ver um senhor
grandioso como o sol ao meio-dia.
Nem Baco nem meio Baco!:
Aqui é o homem
que nada há que não suporte
mas suporta e persiste.
Aqui é o homem até à morte.
António Joaquim Magalhães Cabral (nasceu em Castedo do Douro, Alijó, em 30 Abr 1931; faleceu em Vila Real em 23 de Outubro de 2007)
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