Chamam-te linda, chamam-te formosa,
Chamam-te bela, chamam-te gentil...
A rosa é linda, é bela, é graciosa,
Porém a tua graça é mais subtil.
A areia enfeita com encantos mil,
Não tem a graça, a curva luminosa
Das linhas do teu corpo, amor e ardil.
Chamam-te linda, encantadora ou bela;
Da tua graça é pálida aguarela
Todo o nome que o mundo à graça der.
Pergunto a Deus o nome que hei-de dar-te,
E Deus responde em mim, por toda parte:
Não chames bela – Chama-lhe Mulher!
António Ruy de Noronha nasceu na Ilha de Moçambique a 28 de Outubro de 1909 e morreu em Lourenço Marques a 25 de Dezembro de 1943. Mestiço, de pai indiano, de origem brâmane, e de mãe negra, foi funcionário público (Serviço de Portos e Caminho de Ferro) e jornalista. Usou, por vezes, o pseudónimo de Carranquinha de Aguilar. Os seus «Sonetos» (ed. póstuma, 1943) revelam influência de Antero, Feijó e Nobre, mas o seu poema mais célebre intitula-se «Quenguêlêquê!...». Os seus contos e críticas literárias não foram até hoje recolhidos em volume. Uma desilusão amorosa, causada pelo preconceito racial, fez, segundo os seus amigos, com que o escritor se deixasse morrer no hospital da capital de Moçambique, com 34 anos.
Nota biobliográfica extraída de «A Circulatura do Quadrado - Alguns dos Mais Belos Sonetos de Poetas cuja Mátria é a Língua Portuguesa. Introdução, coordenação e notas de António Ruivo Mouzinho. Edições Unicepe - Cooperativa Livreira de Estudantes do Porto, 2004.
Ler do mesmo autor neste blog: Por Amar-te Tanto
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