Desce em folhedos tenros a colina:
– em glaucos, frouxos tons adormecidos,
que saram, frescos, meus olhos ardidos,
nos quais a chama do furor declina...
Oh vem, de branco – do imo da folhagem!
Os ramos, leve, a tua mão aparte.
Oh vem! Meus olhos querem desposar-te,
reflectir-te virgem a serena imagem.
De silva doida uma haste esquiva
quão delicada te osculou num dedo
com um aljôfar cor de rosa viva!...
Ligeira a saia... Doce brisa impele-a.
Oh vem! De branco! Do imo do arvoredo!
Alma de silfo, carne de camélia...
CAMILO de Almeida PESSANHA nasceu em Coimbra a 7 de Setembro de 1867 e morreu, tuberculoso, em Macau (China) a 1 de Março de 1926. Filho natural de um estudante de Direito e de uma tricana, andou na infância pelos Açores, Mogadouro e Lamego. Cursou Direito na universidade da sua terra natal (1883/91) e começou por exercer advocacia em Trás-os-Montes. Em seguida, abalou para Macau, onde acamaradou, durante três anos, com o escritor Wenceslau de Morais e teve, em 1896, um filho, João Manuel, duma companheira chinesa, falecido, poucos anos depois, do mesmo mal que havia de vitimar o pai. Foi professor de filosofia no liceu de Macau (1894), conservador do registo predial (1900) e juiz (1904). Entretanto, fazia várias visitas à metrópole: a primeira em 1896/97, a segunda em 1899/1900, a terceira de Agosto de 1905 a Janeiro de 1909 e a última de Setembro de 1915 a Março de 1916. Em 1911, foi exonerado do cargo de conservador e voltou a consagrar-se ao magistério liceal. Viciado em absinto e ópio, publicou os seus poemas com o título «Clepsydra» em 1920. A sua poesia é, ao mesmo tempo, plástica e musical, fazendo do seu autor o maior poeta simbolista português. Algumas características: abulia e ataraxia, cepticismo e pessimismo, inspiração lancinante e volúpia erótico-necrófila, nirvana e panteísmo difuso...
Soneto e Nota biobliográfica extraídos de «A Circulatura do Quadrado - Alguns dos Mais Belos Sonetos de Poetas cuja Mátria é a Língua Portuguesa. Introdução, coordenação e notas de António Ruivo Mouzinho. Edições Unicepe - Cooperativa Livreira de Estudantes do Porto, 2004.Foi um dia de inúteis agonias
Quem poluiu quem rasgou os meus lençois de linho
Floriram por engano as rosas bravas
Interrogação
Caminho
Ao longe os barcos de flores
Queda
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