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2008-03-24

O Enterro da Cigarra - Olegário Mariano

Fonte
As formigas levavam-na… Chovia…
Era o fim… Triste outono fumarento!
Perto, uma fonte, em suave movimento,
cantigas de água trémula carpia.

Quando eu a conheci, ela trazia
na voz um triste e doloroso acento.
Era a cigarra de maior talento,
mais cantadeira, desta freguesia.

Passa o cortejo entre árvores amigas…
Que tristeza nas folhas… que tristeza!
Que alegria nos olhos das formigas!…

Pobre cigarra! Quando te levavam,
enquanto chorava a Natureza,
tuas irmãs e tua mãe cantavam…

Olegário Mariano Carneiro da Cunha nasceu no Recife (PE) a 24 de Março de 1889 e veio ainda adolescente para o Rio de Janeiro, onde faleceu a 28 de Novembro de 1958. Notário, deputado, inspector escolar, crítico teatral, secretário de embaixada (Bolívia), ministro plenipotenciário (Portugal, 1940), embaixador em Lisboa (1953/54), foi eleito, em 1938, por morte de Alberto de Oliveira, «príncipe dos poetas brasileiros». Considerado «o poeta das cigarras» (publicara mesmo um livro intitulado «Últimas Cigarras», 1920), os seus versos são fluentes, melancólicos, musicais, evidenciando mais sensibilidade que pensamento.

Soneto e Nota biobliográfica extraídos de «A Circulatura do Quadrado - Alguns dos Mais Belos Sonetos de Poetas cuja Mátria é a Língua Portuguesa. Introdução, coordenação e notas de António Ruivo Mouzinho. Edições Unicepe - Cooperativa Livreira de Estudantes do Porto, 2004.

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