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2006-07-19

Lúbrica - Cesário Verde


Mandaste-me dizer,
No teu bilhete ardente,
Que hás-de por mim morrer,
Morrer muito contente.

Lançaste no papel
As mais lascivas frases;
A carta era um painel
De cenas de rapazes!

Ó cálida mulher,
Teus dedos delicados
Traçaram do prazer
Os quadros depravados!

Contudo, um teu olhar
É muito mais fogoso,
Que a febre epistolar
Do teu bilhete ansioso:

Do teu rostinho oval
Os olhos tão nefandos
Traduzem menos mal
Os vícios execrandos.

Teus olhos sensuais
Libidinosa Marta,
Teus olhos dizem mais
Que a tua própria carta.

As grandes comoções
Tu, neles, sempre espelhas;
São lúbricas paixões
As vívidas centelhas...

Teus olhos imorais,
Mulher, que me dissecas,
Teus olhos dizem mais,
Que muitas bibliotecas!


Cesário Verde ( n. em Lisboa a 25 Feb 1855 em Lisboa, m. em Lisboa a 19 Jul 1886).

Ler ainda:
Nothingandall: CONTRARIEDADES - Cesário Verde
Nothingandall: Ave - Maria - Cesário Verde
Nothingandall: Eu e Ela - Cesário Verde
Nothingandall: De Tarde - Cesário Verde

1 comentário:

Anónimo disse...

eu muito loka

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