Só, incessante, um som de flauta chora,
Viúva, grácil na escuridão tranquila.
-Perdida voz que de entre as mais se exila
-Festões de som dissimulando a hora
Na orgia, ao longe, que em clarões cintila
E os lábios, branca, do carmim desflora...
Só, incessante, um som de flauta chora,
Viúva, grácil, na escuridão tranquila.
E a orquestra? E os beijos? Tudo a noite, fora,
Cauta, detém. Só modulada trila
A flauta fébil... Quem há-de remi-la?
Quem sabe a dor que sem razão deplora?
Só, incessante, um som de flauta chora...
in Antologia Pessoal da Poesia Portuguesa, de Eugénio de Andrade,
Campo das Letras
Camilo Pessanha (n. Coimbra 7 Set 1867; m. Macau 1 Mar 1926)
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Quem poluiu, quem rasgou os meus lençóis de linho
Floriram por engano as rosas bravas
Interrogação
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