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2017-11-14

Incompreensível - Alberto Bramão



Não compreendo este martírio obscuro
Que nos liga a um tempo e nos separa;
Comigo então dá-se uma coisa rara:
Quero fugir-te e sempre te procuro.

Impulso misterioso, indecifrável,
Impele para ti meu pensamento...
E, apesar de saber que és um tormento,
Quero sentir-te e acho-te adorável!

Tenho momentos tais que, com certeza,
Se te visse a meus pés sofrendo, ria...
Mas outros há que até nem quereria
Ver-te no olhar as sombras da tristeza

Umas vezes converso a sós comigo
E abençoo-te pálido e tremente...
Outras vezes talvez mais consciente,
Odeio-te vê lá - não te bendigo!

Não sei se és boa ou má, e não conheço
Donde nasceu este profundo anseio...
Newm sei mesmo se te amo ou se te odeio...
Só sei que de te ver nunca me esqueço.

Se és má e só desditas me desejas,
Que eu mais não veja a tua luz maldita!
Mas se sofres e és boa... Deus permita
Que sejas bem feliz, que sempre o sejas!

in Phantasias, Lisboa, Antiga Casa Bertrand - José Bastos, 1895
(ortografia adaptada para o português atual)

Alberto Allen Pereira de Sequeira Bramão (n. Almada, novembro de 1865; m. Lisboa, em 14 de novembro de 1944).

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