Eu sonhei que ia provando
pela tua boca mel, ia
a beijar uma camélia
e ao mesmo tempo sonhando
Era a que tinhas no meio
do decote do vestido...
Se eu te não amasse, ah! creio
não a tinha talvez tido
Ingrata! a ver-me sem fala
ansioso e tu bem sabias...
ias contudo esfolhá-la
ali mesmo. Quem sabe? ias!
Depois, da mão descuidosa
lendo em minh'alma se leste
entre um sorriso celeste
deixaste cair a rosa
Caiu-te aos pés... N'um momento
era minha. Oh! faze ideia
quiz lhe dar a vida e dei-a
n'um longo beijo sedento
Mas trás um feltro consigo!
Trouxe-o talvez do teu seio!
Faz sonhar, mas não consigo
sonhar, que sonhas; eu sei-o
que, se o meu sonho só mente
não mente a flor, que em teu peito
murchava achando sómente
a neve de que ele é feito
Fernando Afonso Geraldes Caldeira (n. em Águeda a 7 de novembro de 1841; m. em Lisboa a 2 de abril 1894).
Sem comentários:
Enviar um comentário