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2017-09-21

Não Dizia Palavras - Luís Cernuda


Não dizia palavras,
Aproximava apenas um corpo interrogante,
Porque ignorava que o desejo é uma pergunta
Cuja resposta não existe,
Uma folha cujo ramo não existe,
Um mundo cujo céu não existe.

Entre os ossos a angústia abre caminho,
Ergue-se pelas veias
Até abrir na pele
Jorros de sonho
Feitos carne interrogando as nuvens.

Um contacto ao passar,
Um fugidio olhar no meio das sombras,
Bastam para que o corpo se abra em dois,
Ávido de receber em si mesmo
Outro corpo que sonhe;
Metade e metade, sonho e sonho, carne e carne,
Iguais em figura, iguais em amor, iguais em desejo.

Embora seja só uma esperança,
Porque o desejo é uma pergunta cuja resposta ninguém sabe.

in Antologia da Poesia Espanhola Contemporânea, Selecção e Tradução de José Bento, Assírio & Alvim

Luis Cernuda Bidón (n. Sevilha. Espanha, 21 de setembro 1902 em Sevilha; m. cidade do México, México 5 de novembro de 1963)

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