Singra o navio. Sob a água clara
Vê-se o fundo do mar, de areia fina...
- Impecável figura peregrina,
A distância sem fim que nos separa!
Seixinhos da mais alva porcelana,
Conchinhas tenuemente cor de rosa,
Na fria transparência luminosa
Repousam, fundos, sob a água plana.
E a vista sonda, reconstrui, compara,
Tantos naufrágios, perdições, destroços!
- Ó fúlgida visão, linda mentira!
Róseas unhinhas que a maré partira...
Dentinhos que o vaivém desengastara...
Conchas, pedrinhas, pedacinhos de ossos...
(Clepsidra 1920)
Extraído de Poemas Portuguesdes Antologia da Poesia Portuguesa do Séc. XIII ao Séc. XXI, Porto Editora
CAMILO de Almeida PESSANHA nasceu em Coimbra a 7 de setembro de 1867 e morreu, tuberculoso, em Macau (China) a 1 de março de 1926.
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