Páginas

2017-07-14

Poética Contraditória - António Quadros



Não digas o que sabes nos teus versos,
Deixa para trás a ciência e a consciência;
Tudo aquilo que em ti não for ausência
São ideais perdidos, ou submersos.

Abandona-te às vozes que não ouves,
E liberta os teus deuses nos teus dedos;
Não busques os sorrisos, mas os medos,
E o que não for ignoto e só, não louves.

Ser misterioso e triste, é ser poeta:
Mesmo a luz que palpita nos teus cantos
É uma imagem heróica dos teus prantos.

Percorre o teu caminho até ao fundo,
E com os versos que achaste, aumenta o mundo.
Não sejas um escritor, mas um profeta.

in Viagem desconhecida (1952)

António Gabriel de Quadros Ferro, conhecido como António Quadros (Lisboa, 14 de julho de 1923 — Lisboa, 21 de março de 1993)

Sem comentários:

Enviar um comentário