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2017-03-13

Itervm - Tristão da Cunha

Há muito tempo já que eu vou perdendo
os sonhos, um a um, pelo caminho:
- Sangue dum anho ingênuo, cor d'arminho,
de calvário em calvário perecendo.

No alto dum monte, a luz que eu ia vendo,
diante de mim cantando como um ninho,
fria beijou-me o rubro desalinho,
e atrás de mim no escuro foi descendo.

Hoje os olhos se voltam como preces
para as memórias, em que há luas mortas,
e tu, morta, que morta não pareces!

Sobre esta alma de dúvida e agonias
caia a luz desses olhos, dessas portas
onde esperam o sol as almas frias.


Tristão da Cunha (n. no Rio de Janeiro em 13 de Março de 1878; m. a 29 de Junho de 1942).

TRISTÃO DA CUNHA foi o pseudónimo escolhido por José Maria Leitão da Cunha F.º, que, em 13 de Março de 1878 nasceu no Rio de Janeiro, onde morreu a 29 de Junho de 1942. Aluno da faculdade de Ciências Jurídicas e Sociais, concluiu o bacharelato em 1900. Advogado, poeta e prosador (contos e ensaios), redigiu de 1910 a 1928 a secção brasileira da revista simbolista «Mercure de France». Tímido e arredio, conciliava um ideário político democrático com uma sensibilidade aristocrática, o requinte esteticista e o refinamento da linguagem com uma espontaneidade e fluência eivada de melancolia. Um título significativo: «Torre de Marfim» (1901).

Nota biobliográfica extraída de «A Circulatura do Quadrado - Alguns dos Mais Belos Sonetos de Poetas cuja Mátria É a Língua Portuguesa. Introdução, coordenação e notas de António Ruivo Mouzinho. Edições Unicepe - Cooperativa Livreira de Estudantes do Porto, 2004).

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