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2016-12-27

No Pó Dos Livros - Domingos de Oliveira



Um olhar pela estante, lá do pó
traz-me ao olhar as cartas dela, fico
de pé folheando aqui, ali, respigo
palavras do prazer entre as de dor
vazia a boca e ainda o amor
falando do desejo num gemido,
rasgando a carne,ou um grito
a vida inteira vivo em morto corpo.
Por um instante no claustro sou
a alma desolada de mariana, sinto
uma lágrima, só, queimar-me o livro
por onde inadvertido vou.
E porque me comove uma tal paixão
sorrio-me admitindo ser ficção.

in Devastações e Outros Fastos, poemas escolhidos de Domingos Oliveira, Unicepe

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