Não dizia palavras,
Aproximava apenas um corpo interrogante,
Porque ignorava que o desejo é uma pergunta
Cuja resposta não existe,
Uma folha cujo ramo não existe,
Um mundo cujo céu não existe.
Entre os ossos a angústia abre caminho,
Ergue-se pelas veias
Até abrir na pele
Jorros de sonho
Feitos carne interrogando as nuvens.
Um contacto ao passar,
Um fugidio olhar no meio das sombras,
Bastam para que o corpo se abra em dois,
Ávido de receber em si mesmo
Outro corpo que sonhe;
Metade e metade, sonho e sonho, carne e carne,
Iguais em figura, iguais em amor, iguais em desejo.
Embora seja só uma esperança,
Porque o desejo é uma pergunta cuja resposta ninguém sabe.
in Antologia da Poesia Espanhola Contemporânea, Selecção e Tradução de José Bento,
Assírio & Alvim
Luis Cernuda Bidón (n. 21 de setemnro de 1902 em Sevilha, Espanha; m. novembro de 1963, Mexico City)
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