Como dá vida o que mata,
Como o que consome, alenta.
Já que morro, ingrata sorte,
Às mãos da tua porfia,
Deixa-me inquirir um dia
A causa da minha morte:
Se amor com impulso forte
Me rendeu, como me aparta
Do bem, que na alma retrata
Minha doce saudade,
Que em lágrimas persuade,
Como dá vida o que mata.
Nesta aflição importuna,
Em que meu coração passa,
Tudo é rigor que trespassa,
Nada golpe que desuna:
Que infausta a minha fortuna
Um bem, que me representa,
Cruel da vista me ausenta,
E não sabe a minha dor
Definir em tal rigor
Como o que consome, alenta.
in Cem Poemas Portugueses no Feminino
Selecção, organização e introdução de José Fanha e José Jorge Letria
Terramar
Maria Madalena Eufémia da Glória, escritora portuguesa que os contemporâneos chamaram "fénix dos engenhos", nasceu em Sintra a 11 de maio de 1672; f. data desconhecida.
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