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2016-04-11

Visão Dum Leito - António Fogaça

imagem daqui

Ei-la dormindo! Como a branca espuma
que desliza ao quebrar duma onda enorme,
é do seu leito tão plácido...que, em suma,
lembra uma concha onde a Volúpia dorme.

Cerrado o olhar, um céu de ignoto enleio,
o seu corpo febril me surpreendeu...
nudez de acaso, enfim, um céu que veio
como a suprir os lumes do outro céu.

Forma suave, branda, áurea-divina...
-Céu para os lábios, flor que em sonho amado
de puríssimos gozos se ilumina,
sob um chão de luar doce e azulado.

E eu sem poder tocar naquela face...
nem conseguir ao menos esquecê-la!
Eu - como se este olhar, triste, ficasse
a vida inteira condenado a vê-la!...

Vê-la sem a beijar - fosse de leve!
voluptuosa, entre ilusões e alvores,
como um raio de Sol doirando a neve,
como um perfume sobre um mar de flores.


in 366 poemas que falam de amor; uma antologia organizada por Vasco da Graça Moura, Quetzal Editores

António Maria Gomes Machado Fogaça (n. Barcelos, 11 Abr 1863, m. Coimbra, a 27 Nov. 1888).

«Fogaça foi um desses cedo-mortos que tiveram unicamente na arte como na vida, páginas de mocidade. A poesia de António Fogaça é quase sempre risonha de prazer, voluptuosa, quente d'amor lânguida e macia como essas peçasinhas que ele dóba para as suas amadas que, mesmo morrendo, ficam vivas para ele...» (Manoel de Sousa Pinto in Arte & Vida, nº. 1 - Novembro de 1904).

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