Um cacto gótico floresce em crânios aristocráticos
sobre os mantos elefantinos dos tabuleiros
e antigas melodias apodrecem
nas cavidades dos órgãos melancólicos
e nos cachos dos tubos de metal.
O vento dispersou
as balas de canhão e a semente das guerras.
A noite empina-se sobre todas as coisas
e no buxo de cúpulas sempre verdes
um imperador néscio caminha sobre a ponta dos pés
para os jardins mágicos de suas retortas
e na bonança de noites rosadas
ressoa o tilintar de uma folhagem cristalina
que dedos de alquimista tocam
feito vento.
Os telescópios cegaram de horror ao cosmos
e a morte sugou
os fantásticos olhos dos estelonautas.
A lua no entanto pôs ovos sobre as nuvens
estrelas novas brotaram apressadas como pássaros
que migram de terras enegrecidas
cantarolando a canção dos destinos humanos
mas não há ninguém
capaz de compreendê-los.
Ouvi as fanfarras do silêncio
dirigimo-nos rumo ao futuro invisível
sobre rotos tapetes do sudário dos séculos
e Sua Majestade o pó
ajeita-se leve sobre o trono abandonado.
(Trad.: Aleksandar Jovanovic)
in Rosa do Mundo 2001 Poemas para o Futuro, Porto Editora
Jaroslav Seifert (Praga, 23 de setembro de 1901 — Praga, 10 de janeiro de 1986)
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