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2015-11-05

A Cabeleira da Musa - Sosígenes Costa



No teu cabelo há tardes outonais
amarelando o rio e os arvoredos.
Há cidades de mármores e rochedos
de açúcar-candi, bronzes e cristais.

No teu cabelo rútilo há milhões
de abelhas roxas fabricando favos
para o mel que roubam dos craveiros bravos
dos jardins levantinos de anões.

No teu cabelo há trêmulos trigais
de espigas fulvas e há gentis vinhedos
que molhas de perfume com teus dedos
com trinta anéis de pérola ovais.

No teu cabelo se abrem dos pavões
as estreladas caudas, dentre as rosas.
E brilham nela as pedras preciosas:
rubis, safiras, sárdios, cabuchões.

Nele há brondões, revérberos, fanais.
Pois isso atrai cornígeros besouros.
Por isso pombas e canários louros,
sempre de noite, feiticeira atrai.

No teu cabelo há reinos de sultões.
Teu cabelo relumbra como uns matos
cheio de olhos fosfóricos de gatos
e de escamas de fogo dos dragões.

Na tua cabeleira há catedrais.
No teu cabelo rola e ferve estranha
cascata de falerno e de champanha
por entre alabastrinos jasminais.

No teu cabelo vive uma serpente
que descasca por hora uma imponente
pele conteúdo bíblica signais.

No teu divino e esplêndido cabelo
rugem tigres de azul-celeste pêlo
e de unhas de ouro, lúcidas, fatais.

No teu cabelo. Musa Helena e saiba,
queimam-se incenso e nardo azul da Arábia
e outras sortes e espécies aromais.

No teu cabelo há um céu com muitas luas
iluminando cem mulheres nuas
que se banham num lago entre juncais.

No teu cabelo há sílfides e bruxos
dançando dentro dos jorros de repuxos
e há templos de âmbar louro e há muito mais:

Há globos de ouro e estames de açucenas
e cem faisões de prateadas penas,
- Filha do sol, princesa dos corais!

Sosígenes Costa (n. em Belmonte BA, 11 novembro1901 - m. no Rio de Janeiro, RJ, em 5 de novembro de 1968).

Ler do mesmo autor:
Duas Festas no Mar
Chuva de Ouro
O Pavão Vermelho
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