Eu nunca sonhei tanto como agora!
E que ventura, para quem está preso,
Por momentos deitar isto ao desprezo;
dentro da noite imaginar a aurora!
Sonhar! Sonhar! A gente sonha - embora;
Das celas de prisão e grande o peso...
Pode abrandá-lo qualquer sonho aceso,
Mas sempre, n'alma, qualquer coisa chora!
Hoje, mal acordei, ouvi, distante,
Um gemido tão áspero e cortante
Que me parecia quasi não ter fim...
- Carro de bois! - pensei. E vi a serra,
E vi a Beira-Alta, a minha Terra,
Em Campolide - a soluçar por mim!
António Alves Martins (Viseu, 1 de outubro de 1894 — Viseu, 22 de fevereiro de 1929)
Da mesma autoria: Soneto V de Poemas do Cárcere
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