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2015-05-06

Canção dos tristes amores - Manuel da Silva Gaio

Salgueiros do salgueiral
Por toda a noite espalharam
Vozes de agoiro mortal:

- «Não vos vades vós, Senhor,
Por longe tão confiado,
Pois onde deixais amor
Vireis achar só cuidado.»

Puros lábios de coral
Por toda a noite rogaram
A seu amante real:

- «Não partas Pedro - é de morte,
O agoiro daqueles ais.
Que vêem das bandas do norte,
Da rama dos sinceirais.»

Coração forte e leal,
Que os rogos não abalaram
Respondeu, para seu mal:

- «Agoiros dos arvoredos
São rabanadas do vento
Só, Inês, no pensamento
Da fraca gente erguem medos.»

Salgueiros do salgueiral
Pela abalada soltaram
Vozes de agoiro mortal:

-«Peitos são fontes de amor
Que devem ter-se guardadas
Tornai-vos atrás Senhor
Andam com sede as espadas.»

Lindos lábios de coral
Pela abalada rogaram
A seu amante real:

-«Não partas; a minha sorte
Agoiram-na aqueles ais
Que vêem das bandas do norte,
Da rama dos sinceirais.»

Canção forte e leal,
Que os rogos não abalaram
Repetiu, para seu mal:

- «Agoiros dos arvoredos
São rabanadas do vento
Só, Inês, no pensamento
Da fraca gente erguem medos.»

Salgueiros do salgueiral
Inda de longe agoiraram
Dias de mágoa mortal:

-«Dizem, Senhor, os agoiros
Que haveis de chorar em vão;
Que finos cabelos loiros
De sangue se tingirão.»

Salgueiros do salgueiral
Crua verdade agoiraram
A quem partiu, por seu mal.

Salgueiros ouviram ais
De brancos seios varados.
Salgueiros dos Salgueirais
Inda, de dor, soltam brados.

Coimbra, 16 de janeiro de 1899

in Revista Ave-Azul nº. 2, 15 de fevereiro de 1899

Manuel da Silva Gaio nasce em Coimbra a 6 de maio de 1860 e faleceu na mesma cidade a 11 de fevereiro de 1934

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