Salgueiros do salgueiral
Por toda a noite espalharam
Vozes de agoiro mortal:
- «Não vos vades vós, Senhor,
Por longe tão confiado,
Pois onde deixais amor
Vireis achar só cuidado.»
Puros lábios de coral
Por toda a noite rogaram
A seu amante real:
- «Não partas Pedro - é de morte,
O agoiro daqueles ais.
Que vêem das bandas do norte,
Da rama dos sinceirais.»
Coração forte e leal,
Que os rogos não abalaram
Respondeu, para seu mal:
- «Agoiros dos arvoredos
São rabanadas do vento
Só, Inês, no pensamento
Da fraca gente erguem medos.»
Salgueiros do salgueiral
Pela abalada soltaram
Vozes de agoiro mortal:
-«Peitos são fontes de amor
Que devem ter-se guardadas
Tornai-vos atrás Senhor
Andam com sede as espadas.»
Lindos lábios de coral
Pela abalada rogaram
A seu amante real:
-«Não partas; a minha sorte
Agoiram-na aqueles ais
Que vêem das bandas do norte,
Da rama dos sinceirais.»
Canção forte e leal,
Que os rogos não abalaram
Repetiu, para seu mal:
- «Agoiros dos arvoredos
São rabanadas do vento
Só, Inês, no pensamento
Da fraca gente erguem medos.»
Salgueiros do salgueiral
Inda de longe agoiraram
Dias de mágoa mortal:
-«Dizem, Senhor, os agoiros
Que haveis de chorar em vão;
Que finos cabelos loiros
De sangue se tingirão.»
Salgueiros do salgueiral
Crua verdade agoiraram
A quem partiu, por seu mal.
Salgueiros ouviram ais
De brancos seios varados.
Salgueiros dos Salgueirais
Inda, de dor, soltam brados.
Coimbra, 16 de janeiro de 1899
in Revista Ave-Azul nº. 2, 15 de fevereiro de 1899
Manuel da Silva Gaio nasce em Coimbra a 6 de maio de 1860 e faleceu na mesma cidade a 11 de fevereiro de 1934
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