À linda borboleta ali brilhante
A flor dizia assim:
Que diferentes somos! Vês que eu fico
E tu foges de mim!
Nós vivemos contudo sem os homens
Sem eles nos amamos
E ambas formosas, ambas flores, dizem
Que nós nos semelhamos
Mas o ar te conduz! ... e eu fico presa!
Que triste o fado meu!
Com meu perfume antes soprar quisera
No céu o vôo teu.
Mas não, que longe vais! Por entre as flores
Me vais fugindo
E eu fico a ver-me a sombra que na terra
Se está bolindo...
Vais e voltas e foges para longe
Mais caprichosa!
Assim me encontras sempre a cada aurora
Toda chorosa.
Ah! Porque doravante não soframos
Mágoas tão cruas
Como eu, cria raiz, - ou presta-me asas
Como essas tuas.
Ou rosa ou borboleta, - a morte cedo
Nos vem buscar;
Não a esperemos não; vivamos juntas
Num só lugar
Num só lugar, ou sejam mansos ares
Se ali te exaltas;
Ou sejam campos, se é ali que a relva
De pranto esmaltas!
Não importa o lugar! - o que que sejas,
Alento ou côr
Ou corola orvalhada, ou borboleta.
ou asa ou flor,
Vivamos juntas, onde mais te agrade;
Pouco importa o lugar:
Que ou seja terra ou céu, estando juntas
Nos havemos de amar.
Trad. Gonçalves Dias
in Hugonianas: poesias de Victor Hugo traduzidas por poetas brasileiros. Teixeira, Múcio 1857-1926
La Fleur et le Papillon
La pauvre fleur disait au papillon céleste:
"Ne fuis pas !
Vois comme nos destins sont différents. Je reste,
Tu t'en vas!
Pourtant nous nous aimons, nous vivons sans les hommes,
Et loin d'eux,
Et nous nous ressemblons, et l'on dit que nous sommes
Fleurs tous deux!
Mais, hélas! L'air t'emporte, et la terre m'enchaîne.
Sort cruel!
Je voudrais embaumer ton vol de mon haleine,
Dans le ciel!
Mais non! tu vas trop loin! Parmi des fleurs sans nombre
vous fuyez,
Et moi je reste seule à voir tourner mon ombre.
A mes pieds !
Tu fuis, puis tu reviens, puis tu t'en va encore
Luire ailleurs.
Aussi me trouves tu toujours à chaque aurore,
toute en pleurs !
Oh! pour que notre amour coule des jours fidèle,
O mon roi,
Prends comme moi racine, ou donnes moi des ailes,
Comme à toi !
Victor-Marie Hugo (Besançon, 26 de fevereiro de 1802 — Paris, 22 de maio de 1885)
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