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2015-02-05

Sol entre Nuvens - Simões Dias

Barco (foto tirada daqui)

Se ‘inda te apraz ouvir falar de um morto,
que em vida foi do amor favorecido,
verás nos versos meus o desconforto
de um ânimo à desgraça enfim rendido!

Barco sem leme, sem farol, sem porto,
de mil contrárias ondas combatido,
tal me tem sido a vida que hei vivido,
no escuro isolamento do meu horto.

Hoje, que morto estou para a alegria
que nesse teu sereno e brando olhar
em tempos mais ditosos me sorria,

‘inda uma crença faz meu peito arfar:
é supor que os teus olhos, algum dia,
sobre estes versos meus hão-de chorar!

José Simões Dias nasceu em Benfeita (concelho de Arganil) a 5 de fevereiro de 1844 e morreu em Lisboa a 3 de março de 1899. Concluído o bacharelato em Teologia pela universidade de Coimbra (1868), renunciou à via eclesiástica e optou pelo magistério. Além de professor do ensino secundário, foi jornalista e deputado. Contista e poeta neo-romântico, os seus versos têm um cariz popular, bem-humorado e até, por vezes, brejeiro, situando-se à beira da transição para o Realismo e Parnasianismo. O seu soneto foi extraído do vol. «As Peninsulares» (1870; ed. definitiva, 1876).

(Soneto e nota biobliográfica extraída de «A Circulatura do Quadrado - Alguns dos Mais Belos Sonetos de Poetas cuja Mátria É a Língua Portuguesa. Introdução, coordenação e notas de António Ruivo Mouzinho. Edições Unicepe - Cooperativa Livreira de Estudantes do Porto, 2004).

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