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2014-10-03

SONETO FUTURISTA - Carlos de Laet

Noite. Calor. Concerto nos telhados.
Cubos esferoidais. Gatas e gatos.
Vênus. Graças. Aranhas. Carrapatos.
Melindrosas. Poetas assanhados.

Rabanetes azuis. Sóis encarnados.
Comida no alguidar. Cuspo nos pratos.
Três rondas a cavalo. Mil boatos.
Prosa sesquipedal. Tropos safados.

Avenida deserta. Bondes. Grama.
Chopes Fidalga. Leite. Pão-de-ló.
Carros de irrigação. Salpicos. Lama.

Vacas magras. Esfinge. Triste. Só.
Tumor mole. São Paulo. Telegrama.
Dois secretas. Cubismo. Xilindró.


Este soneto satírico teria por alvo o futurismo representado por Graça Aranha, a propósito duma conspiração abortada (segundo Idel Becker, Graça Aranha enviara a São Paulo um telegrama cifrado, anunciando o imediato estouro dum movimento revolucionário. Dizia o telegrama: "Tumor mole virá a furo esta noite". A polícia traduziu corretamente; e prendeu o Graça Aranha. Laet comentou, então: "O Aranha publicou um livro simbólico, CANAÃ, que ninguém compreendeu... Agora faz um telegrama secreto, que todo o mundo decifrou. Obscuro, quando quer a claridade; diáfano, quando busca o mistério. Que estilista!")

Extraído daqui

Carlos Maximiliano Pimenta de Laet (Rio de Janeiro, 3 de outubro de 1847 — Rio de Janeiro, 7 de dezembro de 1927)

Ler do mesmo autor: Triste Filosofia

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