Tua boca rubra e fresca
beijo, e a sede não se apaga:
que em cada beijo quisera
beber toda a tua alma.
Enamorei-me de ti;
e é doença tão má
que dizem os que se amam
que nem com a morte acaba.
Ponho-me louco se escuto
o rumor da tua saia;
e o roçar da tua mão
dá-me vida e depois mata-me.
Eu quisera ser o ar
que toda inteira te abraça;
eu quisera ser o sangue
que corre em tuas entranhas.
São as linhas do teu corpo
modelo das minhas ânsias,
o caminho dos meus beijos
e o íman do meu olhar.
Sinto, ao cingir tua cinta,
uma dúvida que mata:
quisera ter, num abraço,
todo o teu corpo e tua alma.
Estou doente de ti;
da cura não tenho esperança:
na sede deste amor louco
és minha sede e minha água.
Maldito seja o momento
em que entrei em tua casa,
em que vi teus olhos negros,
beijei-te a boca escarlate.
Maldita seja esta sede,
maldita seja esta água!..
Maldito seja o veneno
que envenena e que não mata!
in Antologia da Poesia Espanhola Contemporânea, selecção e tradução de José Bento - Documenta Poética, Assírio & Alvim
Manuel Machado y Ruiz (n. Seville, 29 ago. 1874; m. Madrid, 19 jan. 1947)
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