eu tinha um velho tormento
eu tinha um sorriso triste
eu tinha um pressentimento
tu tinhas os olhos puros
os teus olhos rasos de água
como dois mundos futuros
entre parada e parada
havia um cão de permeio
no meio ficava a estrada.
depois tudo se abarcou
fomos iguais um momento
esse momento parou
ainda existe a extensa praia
e a grande casa amarela
aonde a rua desmaia.
estão ainda a noite e o ar
da mesma maneira aquela
com que te viam passar.
e os carreiros sem fundo
azul e branca janela
onde pusemos o mundo.
o cão atesta esta história
sentado no meio da estrada.
mas de nós não há memória.
dos lados não ficou nada.
Mário Cesariny de Vasconcelos (n. em Lisboa a 9 Agosto de 1923; m. em Lisboa, 26 de Novembro de 2006)
1 comentário:
Belíssimo
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