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2014-07-24

Soneto IX [Nessa tua janela, solitário] - Guilherme de Almeida

Nessa tua janela, solitário,
entre as grades douradas da gaiola,
teu amigo de exílio, teu canário
canta, eu sei que esse canto te consola.

E, lá na rua, o povo tumultuário,
ouvindo o canto que daqui se evola,
crê que é o nosso romance extraordinário
que naquela canção se desenrola.

Mas, cedo ou tarde, encontrarás, um dia,
calado e frio, na gaiola fria,
o teu canário que cantava tanto.

E eu chorarei. Teu pobre confidente
ensinou-me a chorar tão docemente,
que todo mundo pensará que eu canto.


Guilherme de Almeida  (G. de Andrade e A.) n. Campinas SP, 24 Jul 1890 - m. São Paulo, 11 de Jul de 1969).

Ler do mesmo autor:
Essa que eu hei de amar
Metempsicose
A Carta Que Sei de Cor
Romance
Harmonia Vermelha
O Idílio Suave
Nós IV: Quando as folhas cairem nos caminhos
Nós I: Fico deixas-me velho
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