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2014-05-30

Monólogo da noite - Ribeiro Couto

Esta noite estou triste e não sei a razão.
Vou, para espairecer minha melancolia,
Ouvir o mar, que o mar é uma consolação.
Paro junto do cais olhando a água sombria.
Intermitente, sob o véu da cerração,
Vejo uma luz vermelha a acenar-me... "Confia!"
Obrigado, farol que és como um coração...

A água negra, noturna, a bater contra o cais,
Ilude a minha dor fútil de vagabundo.
E o farol a acenar de longe... "Espera mais!"
Recordo... "Antônio, que o paquete fosse ao fundo!"
Depois, fico a pensar nos que foram leais,
Nos que tiveram a coragem de ir do mundo
E numa noite assim se atiraram do cais.

Água eterna... água terrível... água imortal...
Apavora-me a sua aparência sombria.
Se eu pudesse acabar de uma vez o meu mal!
Mas tenho medo. "Não... A água está muito fria.
Além de fria é funda e tem gosto de sal."
E surpreendo-me, a chorar de covardia,
Dizendo ao vento esse monólogo banal.

Publicado no livro Poemetos de Ternura e de Melancolia, 1920/1922 (1924).


Ruy Lopes Esteves Ribeiro de Almeida Couto nasceu em Santos (SP) a 12 de Março de 1898 e faleceu em Paris a 30 de Maio de 1963.

Ler do mesmo autor: Noite de Tormenta; Santos; O Longe e o Perto; Elegia; Fado de Maria Serrana; 

No Jardim da Penumbra

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