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2014-03-31

Inverno - Foed Castro Chamma

Juntos viajamos ao confim dos tempos
desfrutando o sabor de teu hálito e o toque
delicado das mãos que me fogem
quais aves transparentes neste inverno
que pede o teu calor análogo ao mosteiro
cercado pelo gelo de uma Sibéria polonesa
e sobre o banco a monja deitada e o exorcista
a imprecar ao demônio que a abandone reeditando
a mística da Dor. O aconchego no inverno
atrai o fogo da carne ao amoroso que a vida
celebra na matéria onde germina o bálsamo
que vivifica as forças combalidas pelo gelo
da mortificação, o gelo de uma amora acesa
em ímpetos de labaredas invisíveis
que se ocultam e são as rosas de um jardim
florescente que Deus aguarda e rega as folhas
tépidas de Joana a negar o fragor crepitante
do gelo entre os galhos encobertos
pela fria, dolorosa estação.

Rompe os parâmetros que se impõem ao Fogo
o ímpeto avassalador da Aliança concebida
entre os pares que no aconchego dos corpos
suprem a imposição polar da álgida calota
de uma Antártida a reeditar o fogo branco
da Patagônia da nossa solidão
sombria em que afundamos exauridos
da ausência da alma e a liturgia necessária
ao conforto dos lábios afogueados sob o pêlo
de uma áfrica que o Continente de cocada
e sumo interminável a metáfora agasalha
qual imagem afogueada de assombro
e rapto ao confim dos tempos
no leito que convém aos corpos insubmissos
voltados para a dança e seus quadrantes
amorosos que as estações renovam
a cada inverno, a cada canto
consagrado ao rito da Natureza
que os anos celebram, os momos, as legiões
com suas listas de duas cores como as zebras.

Visões da fé não aquecem o corpo místico
da Dor que os braços enlaçados
buscam suprir na viagem sem retorno
afogueada do desejo e a impressão canina
da fome que avassala os nossos corpos
na contradição terrível que acompanha o Amor
e o inverno não aplaca em seus desígnios
paralelos. O brilho do diamante é de uma estrela
em miniatura que o pensamento induz
à relação do espírito a transfigurar-se
na compleição do homem tal um deus
cuja remota salvaguarda é a virtude
do herói que transforma o Arquétipo
em mito.


Foed Castro Chamma, nasceu a 31.03.1927, em Irati, Paraná, Brasil.

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