Há dois anos, um amigo conheceu o amor de sua vida em Gramado, num Congresso de Medicina. Ficaram juntos de noite - a noite foi linda, romântica, precisa, perfeita. Deu tudo certo: química, literatura, matemática, geografia, física e história. Gabaritaram a prova da paixão. Ele saiu de madrugada quando ela ainda dormia. Tinha que trabalhar cedo em hospital de Porto Alegre. Deixou uma longa carta na recepção do hotel afirmando que sua busca havia terminado e ela era a mulher que gostaria de passar o resto dos seus dias. Deixou por escrito o desafio: - Se você sente o mesmo, telefone correndo para mim.
Ela nunca telefonou.
Eles se encontraram casualmente na última semana. Depois do abraço, envergonhado, ele perguntou:
- Não me quis, né?
Ela respondeu à queima-roupa:
- Eu? Tá louco? Eu queria, mas você sumiu sem notícias.
O cara descobriu que a recepção do hotel não entregou a carta. A mulher pensou que ele era um canalha, que apenas desejava curtir e que abandonou a cama de fininho para fugir de qualquer compromisso.
A recepção do hotel estragou o romance dos dois. Não confie em recepção de hotel. Não confie também na casualidade. Se você ama alguém, use todos os sinais de reforço: telefone, grite, esperneie. Tire a teima. Melhor ser chato do que enganado pelo azar. A insistência é a nossa maior confidente. Nem sempre o destino ajuda o amor, temos que ajudar o destino.
Fabrício Carpi Nejar, poeta e jornalista, mestre em Literatura Brasileira pela UFRGS. Nasceu em Caxias do Sul (RS) aos 23 de outubro de 1972.
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