Era uma vez um bom rei
Em Tule - essa ilha distante,
Ao morrer, deixou-lhe a amante
Um copo de oiro de lei.
Era um copo de oiro fino
Todo lavrado a primor;
Se fosse o cálix divino
Não lhe tinha mais amor.
Seus tristes olhos leais
Não tinham outra alegria:
E só por ele bebia
Nos seus banquetes reais.
Chegada a hora da morte
Põs-se o rei a meditar
Grandezas da sua sorte,
Seus reinos à beira-mar.
Deixava um rico tesoiro,
Palácios, vilas, cidades;
De nada tinha saudades,
A não ser do copo de oiro.
No castelo da devesa,
Naquelas salas sem fim,
Mandou armar uma mesa
Para o último festim.
Convidou sem mais tardar
Os seus fiéis cavaleiros,
Para os brindes derradeiros
No castelo à beira-mar.
Então, vazando-a de um trago,
E com entranhada mágua,
Pôs nas ondas o olhar vago
E atirou a taça à água.
Viu-a boiar suspendida,
'Té que as ondas a levaram
Os olhos se lhe toldaram,
E não bebeu mais na vida!
Trad. Antero de Quental
Johann Wolfgang von Goethe 28 August 1749 – 22 March 1832)
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