Não vos fadigarei mais os ouvidos
Co'os meus cantos américos. Os dias
Gratos correr já sinto às harmonias
Dos climas tropicais. Os suspendidos
Rubros frutos desprendem-se do ramo
Nos quietos dias, ao gentil reclamo
Das formosas lembranças, nos ouvidos.
De um peito tão mavioso, onde encravada
Luzindo paz a estrela d'esperança,
O tempo, que em ruinar cansa e mais cansa,
Desvanecem o amor: a tão amada
Puros cabelos no ombro desparzia,
Cheios de gozo os braços estendia –
Qual não o pode fazer esta coitada.
Oh, que atração que há'i no abismo negro!
Roda-se à borda hiante, qual se fora
A algum destino oculto eterno – embora
Pressintas morte, a uns sons vagos de allegro
Desconhecido e sedutor, vais de hoje
Levado qual quem de ontem passa e foge
Em derrota: porém leal e íntegro.
Às carregadas sombras da espessura
Ledamente lá vão durante a sesta
Os grupos amorosos da floresta,
Ou descansam: que importa a formosura,
Quando este sol que educa-a dês que nasce
Não cessa de dar cor a cada face,
Tarde áurea agora, agora manhã pura?
Quando as tintas de luz, forte-animadas
Em tórrido fulgor, ou brandos raios,
Fixam-se em flor-abril, em frutos-maios?
– Das setas luminosas cintiladas
A fuga mais veloz, a alma resplande
Do universo, e na glória de Deus grande
Saem da noite as róseas alvoradas.
Joaquim de Sousa Andrade, que usou o pseudónimo literário de Sousândrade, nasceu em Guimarães, Maranhão a 9 de julho de 1833 e faleceu em 20 de abril de 1902 em São Luís, Maranhão, Brasil
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