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2013-07-09

Outrora - (Relembrando Sousândrade no 180º aniversário do nascimento)

Não vos fadigarei mais os ouvidos
Co'os meus cantos américos. Os dias
Gratos correr já sinto às harmonias
Dos climas tropicais. Os suspendidos
Rubros frutos desprendem-se do ramo
Nos quietos dias, ao gentil reclamo
Das formosas lembranças, nos ouvidos.

De um peito tão mavioso, onde encravada
Luzindo paz a estrela d'esperança,
O tempo, que em ruinar cansa e mais cansa,
Desvanecem o amor: a tão amada
Puros cabelos no ombro desparzia,
Cheios de gozo os braços estendia –
Qual não o pode fazer esta coitada.

Oh, que atração que há'i no abismo negro!
Roda-se à borda hiante, qual se fora
A algum destino oculto eterno – embora
Pressintas morte, a uns sons vagos de allegro
Desconhecido e sedutor, vais de hoje
Levado qual quem de ontem passa e foge
Em derrota: porém leal e íntegro.

Às carregadas sombras da espessura
Ledamente lá vão durante a sesta
Os grupos amorosos da floresta,
Ou descansam: que importa a formosura,
Quando este sol que educa-a dês que nasce
Não cessa de dar cor a cada face,
Tarde áurea agora, agora manhã pura?

Quando as tintas de luz, forte-animadas
Em tórrido fulgor, ou brandos raios,
Fixam-se em flor-abril, em frutos-maios?
– Das setas luminosas cintiladas
A fuga mais veloz, a alma resplande
Do universo, e na glória de Deus grande
Saem da noite as róseas alvoradas.

Joaquim de Sousa Andrade, que usou o pseudónimo literário de Sousândrade, nasceu em Guimarães, Maranhão a 9 de julho de 1833 e faleceu em 20 de abril de 1902 em São Luís, Maranhão, Brasil


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