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2012-12-01

Pseudo-Omnipotente - Henrique Rosa

As leis naturais são a expressão
mais rigorosa da necessidade.
Moleschott

Às tenras hastes chegam as seivas,
Vêm de distantes raízes fundas,
E os ramos vivem porque das leivas
A terra manda forças fecundas.

Vestem-se os troncos de clorofilas
Nas verdejantes folhas cortadas,
E de entre as folhas, como pupilas,
Nascem as flores aveludadas.

E os seus ovários desenvolvidos
Depois que os pólens os fecundaram,
Dão-nos os frutos apetecidos
Fim pra que as seivas ali chegaram.

Mas à medida que frutifica,
Caminha a planta pra se extinguir;
Se deu sementes, a espécie fica;
Não é precisa, pode ruir.

E em pouco tempo, murcha, pendida,
Vai tombar seca ferida de morte;
E as novas hastes a que deu vida
Esperam todas a mesma sorte.

Que a Natureza vive em miséria:
É mãe somente de coisas novas
Usando sempre velha matéria,
E só faz montes abrindo covas.

in Antologia de Poemas Portugueses Modernos por Fernando Pessoa e António Botto, Ática Poesia

Henrique dos Santos Rosa (nasceu em 1 de Dezembro de 1850, morre em 8 de fevereiro de 1925)

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