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2012-10-28

Liberta em Pedra - Natércia Freire


Livre, liberta em pedra.
Até onde couber
tudo o que é dor maior,
por dentro da harmonia jacente,
aguda, fria, atroz,
de cada dia.

Não importam feições,
curvas de seio e ancas,
pés erectos à luz
e brancas, brancas, brancas,
as mãos.

Importa a liberdade
de não ceder à vida
um segundo sequer.

Ser de pedra por fora
e só por dentro ser.

- Falavas? Não ouvi.
- Beijavas? Não senti.
Morreram? Ah! Morri, morri, morri!

Livre, liberta em pedra,
voltada para a luz
e para o mar azul
e para o mar revolto…
E fugir pela noite,
sem corpo, sem dinheiro,
para ler os meus santos,
e os meus aventureiros,
(para ser dos meus santos,
dos meus aventureiros),
filósofos e nautas,
de tantos nevoeiros.

Entre o peso das salas,
da música concreta,
de espantalhos de deuses,
que fará o Poeta?

(Liberta em Pedra, 1964)

Natércia Ribeiro de Oliveira Freire nasceu em Benavente, a 28 de Outubro de 1919 - faleceu em 17 de Dezembro de 2004.

Da mesma autoria no Nothingandall: Poema de Amor

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