Esta página, por exemplo
não nasceu para ser lida.
Nasceu para ler pálida,
um mero plágio da Ilíada,
alguma coisa que cala,
folha que volta pró galho,
muito depois de caída.
Nasceu para ser praia,
quem sabe Andrômeda, Antártida,
Himalaia, sílaba sentida,
nasceu para ser última
a que não nasceu ainda.
Palavras trazidas de longe
pelas águas do Nilo,
um dia, esta página, papiro,
vai ter que ser traduzida,
para o símbolo, para o sânscrito,
para todos os dialetos da Índia,
vai ter que dizer bom dia
ao que só se diz ao pé do ouvido,
vai ter que ser a brusca pedra
onde alguém deixou cair o vidro.
Não é assim que é a vida?
Paulo Mendes Leminski(n. em Curitiba, Paraná, a 24 de Agosto de 1944; m. em Curitiba a 7 de Junho de 1989)
Ler do mesmo autor:
Sintonia para Pressa e Presságio
Amor bastante - Paulo Leminski;
Amor, então;
Iceberg
1 comentário:
Distraí-me uns dias sem olhar para o numerador. Já passaste os 2 milhões de visitantes!
Parabéns, Fernando! Continua!
Grande abraço,
Rui
Enviar um comentário