Dá tudo ao amor;
Obedece ao teu coração;
Amigos, família, dias,
Bens, reputação,
Planos, crédito e a Musa, -
Nada recuses.
É um grande senhor;
Dá-lhe carta branca:
Segue-o sem remissão,
Esperança além da esperança:
Cada vez mais alto,
Ele mergulha na tarde,
De asa intacta,
Desígnio oculto;
Pois é um deus,
Conhece o seu caminho
E os caleiros do céu.
Nunca se destinou aos fracos,
Exige coragem intransigente.
Almas que vencem a dúvida,
De valor inquebrantável,
Ele recompensará -
Elas regressarão,
Melhores que eram,
Em ascensão contínua.
Deixa tudo pelo amor;
Ouve-me, pois, ouve-me,
A mais uma palavra sujeita o teu coração,
Mais um impulso de firme empenho.
Mantém-te hoje,
Amanhã, para sempre,
Livre como um árabe,
De quem tu amas.
Que a amada seja a tua própria vida,
Mas quando a surpresa,
A primeira sombra ténue de suspeita
Passar pelo seu jovem peito,
De uma alegria que te exclui,
Livre seja ela, livre sem peias;
Não agarres a orla do seu vestido,
Nem a rosa mais pálida que arrancou
Do seu diadema de verão.
Embora a amasses, como a ti mesmo,
Como alguém de barro mais puro,
Ainda que a sua partida escureça o dia,
Roubando encanto a toda a vida,
Sabe do coração
Que quando os semideuses partem,
Os deuses chegam.
Trad. José Alberto Oliveira
in Rosa do Mundo, 2001 Poemas para o Futuro, Assírio & Alvim
Ralph Waldo Emerson (n. em Boston, Massachusetts, a 25 de maio de 1803 - m. a 27 de abril de 1882, Concord, Massachusetts)
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