Esta não é filha do sol
com pernas e pés de marinheiros
subindo às árvores das herdades.
Esta é preciso ouvi-la dias inteiros
aquém das grades.
Esta
não chama para os campos doirados
onde o canto é livre e aquece, morno.
Mas para silêncios hirtos e cerrados
com fardas e armas em torno.
Desde o sinal das auroras
até à noite que plange
amortalhando as horas,
seu canto não canta, range…
Ó cigarra das torvas claridades!
Seus cantos só pode cantá-los
a boca de pedra e dentes ralos
do ferro nas grades.
(Noite de Pedra, 1955)
In Poemas Portugueses, Antologia da Poesia Portuguesa do Séc, XIII ao Séc. XXI, Porto Editora
Luís Maria Leitão nasceu em Moimenta da Beira, 27 de Maio de 1912 e faleceu em Niterói, Rio de Janeiro a 9 de Outubro de 1987)
Ler do mesmo autor: Homem
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