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2012-03-12

Fado de Maria Serrana - Ribeiro Couto

Se a memória não me engana,
Pediste-me um fado triste:
Triste Maria Serrana,
Por que tal fado pediste?

Na serra, a fonte e as ovelhas
Eram só os teus cuidados;
Tinhas as faces vermelhas,
Hoje tens lábios pintados.

Hoje de rica tens fama
E toda a cidade é tua;
Tens um homem que te chama
Ao canto de cada rua.

Mas ai! pudesses de novo
Tornar à serra, Maria!
Se não te perdoasse o povo,
A serra te perdoaria.

Lá te espera o mesmo monte,
E a casa junto ao caminho,
E a água da mesma fonte
Que diz teu nome baixinho.

Secos teus olhos de mágoa,
Se não tivessem mais pranto,
Choraria aquela água
Que já por ti chorou tanto.

Publicado no livro Entre Mar e Rio: poesia (1952). Poema integrante da série Guitarra e Violão.
In: COUTO, Ribeiro. Poesias reunidas. Rio de Janeiro: J. Olympio, 1960. p.425

Extraído daqui

Ruy Lopes Esteves Ribeiro de Almeida Couto nasceu em Santos (SP) a 12 de Março de 1898 e faleceu em Paris a 30 de Maio de 1963. Foi jornalista em São Paulo (1915/18) e, após concluído o curso de Direito (1919), no Rio (1919/22). Promotor público dos estados de São Paulo (1924/ 25) e de Minas Gerais (1926/28), acabou por se dedicar à carreira consular, a partir desta última data: Marselha, Paris, Haia, Lisboa, Belgrado. Estreou-se em livro com os «Poemetos de Ternura e Melancolia» (1924), dando origem ao penumbrismo (confidência, surdina, suavidade e meios tons). O seu avô materno era português e ele próprio ainda era primo do escritor Adolfo Casais Monteiro, o que provocou o volume de «Correspondência de Família» (1933). Quando permaneceu em Portugal como secretário de embaixada, reuniu as suas produções poéticas de 1914 a 1943 no volume «Dia Longo» (1944) e publicou também «Uma Noite de Chuva e outros contos». Depois, editar-se-iam ainda «Entre Mar e Rio» (1952) e «Sentimento Lusitano» (1963).

Nota biobliográfica extraída de «A Circulatura do Quadrado - Alguns dos Mais Belos Sonetos de Poetas cuja Mátria É a Língua Portuguesa. Introdução, coordenação e notas de António Ruivo Mouzinho. Edições Unicepe - Cooperativa Livreira de Estudantes do Porto, 2004).

Ler do mesmo autor: Noite de Tormenta; Santos; No Jardim em Penumbra; O Longe e o Perto; Elegia

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