Você pergunta porque eu fico sem falar...
Porque este é o grande instante em que
existe o beijo e existe o olhar,
porque é noite... e esta noite eu gosto de você!
Chegue-se bem a mim. Eu preciso de beijos.
Ah! se você soubesse o que há, esta noite, em mim
de orgulhos, ambições, ternuras e desejos!...
Mas, não, você não sabe, e é bem melhor assim!
Abaixe um pouco mais o abat-jour! Está bem.
É na sombra que o coração fala e repousa:
tanto mais os olhos se vêem,
quanto menos se vêem as cousas...
Hoje eu amo demais para falar de amor.
Venha aqui, bem perto! Eu queria
ser hoje, seja como for,
aquele que se acaricia...
Abaixe ainda mais o abat-jour.
Vamos ficar sem dizer nada.
Eu quero sentir bem o gosto
das suas mãos sobre o meu rosto!...
Mas quem está aí? Ah! a criada
que traz o café... Não podia
deixar aí mesmo? Não importa!
Pode ir-se embora!... E feche a porta!...
Mas o que é mesmo que eu dizia?
Quer... agora o café? Se você preferir...
Já sei: você gosta bem quente.
Espere um pouco! Eu mesmo é que quero servir.
Está tão forte!... Assim? Mais açúcar? Somente?
Não quer que eu prove por
você?... Aqui está, minha adorada...
Mas que escuro! Não se enxerga nada...
Levante um pouco esse abat-jour.
(Tradução de Guilherme de Almeida)
in os poemas da minha vida - Diogo Freitas do Amaral - Público
Paul Géraldy (pseud. Paul Lefèvre, Paris, 12 de maio de 1885 — Neuilly-sur-Seine, 10 de março de 1983)
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