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2012-02-14

É tarde! - Augusto Emílio Zaluar

É forçoso... não posso por mais tempo
Conter a acerba dor que me lacera;
Tem limites o humano sofrimento,
Que há-de ao coração dizer - espera?

Esperar! Quando sinto a cada instante
As minhas ilusões desvanecer-se;
E de meu peito ao arquejante abalo
Pouco a pouco a existência desprender-se!

Esperar! Quando vejo que a fortuna
Que sonhava tão alto em meu transporte
Se converte em promessa enganadora,
Pois onde cria a vida, encontro a morte!

Esperar! Tu não sabes o que pedes;
Não pesaste o valor dessa palavra!
É tarde! é muito tarde! Agora em chamas
O incêndio fugaz devora e lavra!

E tiveste a coragem reflectida,
De fria calcular os meus tormentos,
E rir do meu sofrer! rir de ti mesma!
E zombar dos mais santos pensamentos?!

Tão moça e tão descrente! Onde aprendeste
Essa lição fatal do desengano?
A dúvida que pousa junto ás campas,
Revelou-te no berço o negro arcano?

Oh! não, não acredito em teus receios:
O meu provado amor já não se ilude;
Tu pões a glória tua em ser-me infensa
Eu em ser-te fiel minha virtude?

Tu calculas, invocas mil pretextos,
Pensas, reflectes com sossego e calma;
Sujeitas à razão teus sentimentos;
Os meus são espontâneos da minh'alma.

És feliz! Foste tu quem o disseste:
Goza em paz essa máxima ventura;
Não irão perturbar os teus prazeres
Os queixumes da minha desventura!

Um dia, talvez digas, se a memória
Do meu amor na mente conservares;
"Extremos como os seus nunca mais tive!
Matou-o o meu desprezo e seus pesares!

Augusto Emílio Zaluar (n. Lisboa, 14 de fevereiro de 1826 – m. Rio de Janeiro, 3 de abril de 1882

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